Edição do dia 12/11/2010

12/11/2010 23h38 - Atualizado em 12/11/2010 23h38

Harmonia é a palavra que rege tantas espécies curiosas do arquipélago

Ao todo, 97% do território são áreas preservadas do Parque Nacional. As ilhas, formadas a partir de material vulcânico, dificultaram a ocupação humana o que foi decisivo para manter intocada boa parte desse paraíso.

Tino MarcosIlhas Galápagos, Equador

O Oceano Pacífico esconde surpresas, sob a cortina do mar. Dele, surgem caranguejos fincados na pedra. E o homem chega para descobrir tudo isso. Em Galápagos, a vida se faz com vigor e originalidade.

Ilhas tropicais não têm lobos marinhos, a não ser as de Galápagos. Ilhas tropicais e pingüins não têm nada a ver, a não ser em Galápagos, onde tartarugas são gigantes e terrestres, e as iguanas são marinhas, como em nenhuma outra parte do mundo.

Há cinco milhões de anos, a mil quilômetros do nosso continente sul-americano, Galápagos começava a surgir, graças a uma conexão direta do coração da terra com o mar. Aos milhões, erupções produziram, aos poucos, um arquipélago feito de lava.

Na terra

A vida surgiu na terra de Galápagos da crueza do carvão queimado, da lava dos vulcões que se espalhou em oito mil quilômetros quadrados. Como não pensar no início de tudo, vendo criaturas vestidas de pré-história. Poderiam ser os inimigos mortais dos mocinhos dos seriados japoneses.

Por um lugar no topo da pedra, por uma posição privilegiada no laguinho, os machos competem, cabeça com cabeça e casco com casco. Tudo começou assim: a tartaruga macho estava tranquila no lago até outro macho aparecer. Chegou e ficou logo ficando frente a frente com o outro macho.

Dizem que tartaruga, quando fica tensa, faz um barulho que lembra um mergulhador no fundo do mar, e é verdade. E o macho invasor resolve desistir.

No ringue da pedra, em frente ao mar, as iguanas se medem. As reações são rápidas, quase sincronizadas. Parece uma iguana refletida no espelho. O invasor encurrala o adversário, que recua. A que está em desvantagem tenta voltar para o alto da pedra, mas não deu dessa vez. A iguana invasora venceu e, enfim, conseguiu descansar.

Harmonia é a palavra que rege tantas espécies curiosas do arquipélago. Quantas vezes a iguana olha para o lado e vê zayapas, outra exclusividade galapaguenha. Já estiveram ameaçadas de extinção. Hoje, são parte da paisagem. Dividem as pedras com as iguanas. E viver em harmonia é um passo para viver com saúde.

O repórter Tino Marcos vai conhecer um dos habitantes mais famosos de Galápagos. Em frente onde ele vive, a placa identifica: o solitário George. É uma tartaruga que tem, pelo menos, 90 anos de idade e uma torcida imensa da comunidade científica para que ele se torne papai.

Até que 90 anos não é tanto para quem tem uma expectativa de vida de 150 anos. George é o último indivíduo de sua espécie. É uma forma dramática de dizer filho único. É "o" sobrevivente.

Ele mora na sede do Parque Nacional de Galápagos. Esse é o território de Fausto Llerena, funcionário do parque há 39 anos. Ele cuida do George, das tartarugas gigantes e de mil tartaruguinhas de diferentes tamanhos e origens. Elas são numeradas, e cada cor se refere à ilha de onde vieram. Havia 14 espécies de tartaruga gigante em Galápagos. Restam 11.

Nos tempos das grandes navegações, tartarugas eram comida fácil, carne fresca para os baleeiros que passavam por Galápagos e levavam toneladas delas. O Parque Nacional cuida de espécies em situação mais delicada. No local, elas vivem os dois primeiros anos de vida e aprendem a superar os degraus da vida, sob a batuta e a supervisão de seu fausto llerena.

O repórter Tino Marcos não resiste e pergunta se já questionaram Fausto se ele se parece com uma tartaruga. “Algumas pessoas me dizem isso. A gente vai ficando parecido com os animais que cuida”, diz.

Fausto nos abre um armário lotado de vida. Na incubadora, são 120 ovinhos de futuros gigantes. E já sabe o sexo das tartaruguinhas. De um lado, com temperatura mantida a 29,5 ºC, nascerão fêmeas. Do lado que fica nos 28ºC, virão machos. Em média, pouco mais da metade consegue chegar à fase adulta.

E o George? Ele pesa mais de 100 quilos.

Comida, um habitat confortável, três fêmeas. Todas com genética muito próxima à dele. A espécie de george pode continuar em gerações futuras. É a esperança da ciência. E parece que chegamos em hora muito rara e especial. George decidiu perseguir uma das fêmeas. Era a hora do almoço. De repente, a pata enorme surge na frente da tartaruga fêmea. E george despeja seus 100 quilos sem cerimônia. Em nome da ciência, em nome da perpetuação, George faz o que dele se espera. Daqui a três meses, poderemos ter ovinhos e novidades, quem sabe?

Não é fácil ser uma tartaruga gigante e lidar permanentemente com aquele casco todo. Em movimentos que lembram um sistema de suspensão e amortecedor, elas sobem e descem a carroceria resistente. Não são exatamente ágeis pra buscar comida. E ela andou faltando, por culpa da concorrência de animais introduzidos.

Só em uma das ilhas, mais de 100 mil cabras foram erradicadas. Elas simplesmente devoram as plantas que as tartarugas gigantes comem. Esse trabalho de retirada das espécies introduzidas é longo, lento, gradual. E elas agradecem.

Dar um passo leva alguns segundos. Tartarugas sugerem sossego, silêncio, isolamento.

Mas na estrada mais movimentanda da ilha, nós encontramos uma tartaruga gigante na beira da estrada. Quase não viu ninguém. E no local passam caminhão, moto e carros. Alertamos o Parque Nacional sobre a presença dela. O mundo dos homens passando perto demais da tartaruga gigante: não é cena comum nessas ilhas.

Ao todo, 97% do território do arquipélago são áreas preservadas do Parque Nacional de Galápagos. E essas ilhas aridas, formadas a partir de um material vulcânico, dificultaram a ocupação humana ao longo dos anos. Foi decisivo para manter intocada boa parte desse paraíso.

Um céu riscado de mistérios, o solo negro, quase nada de água doce, aridez extrema, e a vida brotando e se reiventando com apetite vulcânico. Faz sentido? Será que a inexistência de mamíferos predadores foi decisiva?

O arquipélago é uma especie de cruzamento de ventos e de três grandes correntes marítimas. A principal delas vem de águas profundas e geladas do Oceano Pacífico. Quando elas se chocam contra a plataforma vulcânica das ilhas aflora uma grande massa de mar gelado e riquíssimo em nutrientes. Essa e a base de um ecossistema perfeito.

No mar

O mar pode ser claríssimo, escurão, calmo ou não, mas é sempre generoso. Nele e dele, vivem milhares de espécies em Galápagos, dentro e em volta do mar.

O arquipélago de Galápagos é um lugar q aguça a curiosidade de cientistas e pesquisadores. Por exemplo, por que só em galápagos as iguanas mergulham? De onde vieram? E por que são tantas ?

“Essa população de iguanas marinhas é jovem. Aqui, em Galápagos, tem sete subespécies, mas todas vieram de um mesmo ancestral, a iguana verde, que mroa na costa do Equador, Colômbia e Panamá. Essas iguanas vieram boiando em ilhas de vegetação que vêm do continente sul-americano. Então, elas têm que se adaptar a outra condições de vida. Essas iguanas testaram o mar, testaram a alga, que era a única comida que tinha. E elas tiveram que se tornar marinhas para sobreviver”, explica Andrés Vergara, guia do Parque Nacional de Galápagos.

A população de iguanas é 12 vezes maior que a humana em Galápagos. São 300 mil iguanas marinhas, porque ainda tem as terrestres, de rosto mais comprido, para comer folhas. As marinhas têm a cara mais achatada, para facilitar as refeições submersas, para tirar alga da pedra.

As ilhas de Galápagos começaram a surgir há cinco milhões de anos. São jovens em comparação aos continentes da senhora Terra. No local, portanto, nunca viveram dinossauros. Nunca mesmo? Quem diria...