A mais pura arte: este é o título que nomeio a edição do Homem-Aranha em memória da tragédia de 11 de Setembro (na extensão do post). A capa da comix não traz nenhuma referência do herói em ação. É um sinal de luto, um sinal que clama por silêncio e reflexão… como se nos convidasse a cruzar os limites do real e do surreal e nos transportar para o fatídico dia em que os Estados Unidos sofreram o ataque.
Tudo o que acontece está focado na ótica do Aranha e é incrivelmente tocante testemunhar o choque, a perplexidade e a dúvida estarrecedora que toma conta da alma do ícone das histórias em quadrinhos
É curioso que esta história carregada de emoção e drama seja justamente contada pelo Aranha. É como se o herói expiasse todo o sentimento de culpa por não conseguir chegar a tempo de impedir toda aquela cena desesperadora e horripilante. A culpa é um tema recorrente que atormenta a mente de Peter Parker, já que ele acredita ser o culpado pela morte do Tio Ben e da Gwen, assunto muito bem comentado e abordado pelos visitantes do ComLimão em posts anteriores.
Identificamos e admiramos os super-heróis pela capacidade de impedir tragédias, por representar a inquestionável vitória do bem sobre o mal. Desta vez, não foi assim. Não havia heróis, não havia vilões…todos deixam a identidade super-poderosa se perder frente ao terror cru dos atentados. E eu me surpreendi com o Doutor Destino, que não emite uma palavra sequer, mas rouba a cena como ninguém. Não quero estragar a expectativa de quem ainda não leu contando aqui, mas essa passagem é simples, breve, mas memorável.
Se você quer testemunhar uma obra-prima no mais literal sentido da palavra, a leitura desta HQ é mais que obrigatória. É um manifesto contra a intolerância e a covardia, ao mesmo tempo em que busca desesperadamente reerguer o Sonho Americano, muito bem representado pelo Capitão América, que a tudo assiste estarrecido, mas com uma moral e ética acima de qualquer tragédia.
* Evidentemente, este comix relata o lado americano da história e por isso é um tratado patriota, que exalta o senso de sobrevivência daquela nação e não preve a invasão das tropas americanas em países considerados como o “eixo do mal”, embora insinue uma possível resposta bélica do governo americano. Ao encerrarmos a leitura desta antológica história, cabe lembrar que em uma guerra não existem nações corretas ou incorretas: existe apenas morte, dor e perda de cidadãos que muitas vezes não concordam ou desejam participar de guerras sangrentas.
É evidente que o exército americano cometeu incontáveis atrocidades em países árabes, em nome da honra das vítimas do 11 de Setembro. Que estas vítimas possam ser lembradas não pela tragédia que sofreram e pelo derramamento de sangue que aconteceu em pról de seus nomes, mas sim pelo desejo de paz que ecoa por todo o planeta.
“Você queria mandar uma mensagem.
E, ao fazer isso, nos despertou do nosso sono.
Mensagem recebida. Nossa resposta virá pelo trovão.”
Fonte: Com Limão