Uma grande rede de TV americana há algum tempo tentou usar geólogos em circunstâncias perigosas para fazer um programa no estilo de Survivor.
Contrataram uma equipe de produção e juntaram um grupo de geólogos que votariam para mandar uns aos outros ao “paredão”, baseados em como reagiriam durante o cumprimento de tarefas perigosas como percorrer as cercanias de vulcões ativos, avaliar deslizamentos de terra, fazer vôos arriscados em áreas remotas e coisas assim. O “geólogo radical” remanescente ganharia um prêmio.
A equipe deparou-se com problemas desde o início.
Escolheram nove geólogos, seis homens e três mulheres, e os levaram até um vulcão muito instável nas Filipinas. Os nove cientistas se deram muito bem com as câmeras, especialmente quando lhes era dado álcool. Mas a equipe de filmagem logo percebeu que, mesmo depois de beber “galões”, os geólogos continuavam a falar com “um linguajar obscuro sobre ‘brechas’ e ‘lahars'” – nada que ficasse bom num reality show.
A única subida na tensão aconteceu quando o sismólogo e o geólogo estruturalista começaram a discutir aos berros qual seria a melhor receita de chilli.
Quando os geólogos escalaram o vulcão para desvendar os seus segredos, partiram em direções diferentes e a equipe de câmeras foi incapaz de encontrar mais do que dois deles trabalhando juntos. Os geólogos acharam que o vulcão poderia entrar em erupção a qualquer momento. Ao ouvir isso, os cameramen desapareceram.
O resultado quase não rendeu uma cena e os editores foram incapazes de dar sentido ao que tinham, porque não faziam idéia sobre o que os geólogos falavam.
Poucos dos cientistas pareciam entender a idéia de votar para expulsar um outro membro. Finalmente, alguém lhes disse para apenas livrarem-se de alguém com base em qualquer critério e, assim, decidiram expulsar quem tinha menos habilidade com o martelo petrográfico.
O segundo evento, aterrisar com um avião equipado com esquis em uma geleira do Alasca, falhou porque nenhum dos geólogos ficou nervoso e assim não houve apelo dramático – exceto entre a equipe de filmagem.
A equipe se recusou a ir ao local de filmagem. Em vez disso, deram aos cientistas duas câmeras e pediram que filmassem uns aos outros.
Quando os editores tentaram trabalhar as cenas, descobriram que eram todas imagens de “glacial erratics”. Somente 10% das cenas mostravam seres humanos – principalmente um petrólogo parado passivamente para servir de escala.
Pagar pelo permanente suprimento de cerveja e o transporte das pesadas pilhas de amostras de rochas quase acabou com o orçamento. O projeto foi engavetado. E, assim, os geólogos continuam sendo um enigma.
Fonte:Artigo de James Clarke
Publicado em 28/3/2008 no The Star – África do Sul
Traduzido pelo geólogo Argemiro Garcia e divulgado com a permissão do autor.
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